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Minha experiência no Japão pela JICA

Em 2015 tive a oportunidade de realizar o curso de Desenvolvimento de Políticas de Reciclagem, treinamento promovido pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) com foco em países em desenvolvimento, representando a Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais, órgão ambiental no qual trabalho. Saí de Belo Horizonte no dia 24 de agosto de 2015 e cheguei ao Japão dia 26 de agosto à noite, percorrendo um longo "caminho" em minha primeira viagem internacional, após paradas em São Paulo e Doha. Meu curso foi ministrado na JICA Tokyo, local de excelente estrutura e organização, onde eu, assim como os demais participantes do curso, também fiquei hospedada. À primeira vista o lugar já impressiona, dada a diversidade étnica e cultural dos alunos que se avistam na recepção do prédio. Na chegada, vimos um breve vídeo introdutório sobre a JICA e fomos encaminhados aos respectivos quartos, onde haviam alguns folders com novas instruções.

FotoJICA Tokyo

O quarto na JICA Tokyo é excelente, de bom tamanho, com mesa para estudo, guarda-roupa, uma pequena geladeira, cofre, TV, ar condicionado e banheiro. Confesso que não esperava que o espaço fosse grande, dada a limitação que os japoneses têm com espaço; mas tinha até sacada no quarto, muito confortável. Há água quente e máquina de gelo para todos usarem à vontade enquanto estiverem nos quartos, além de lavanderia.

FotoQuarto da JICA Tokyo

Dentre os papéis orientativos que recebemos havia um cronograma com diversas atividades promovidas ou indicadas pela própria Jica para os bolsistas, tais como aulas de japonês, aikidô e programas culturais. A Jica Tokyo promovia excursões a locais turísticos também, mas quem quisesse conhecer Tokyo de maneira independente era contemplado com diversos mapas na recepção da Jica, além da ajuda dos recepcionistas.

No dia 27 de agosto, o curso se iniciou com a apresentação dos alunos e de nossas queridas instrutoras, Mitani-San e Aiko-san, e do pesquisador que nos acompanhou e orientou ao longo do curso, Kojima-sensei. Após as devidas orientações e instruções e entrega dos cartões de alimentação e saque que utilizaríamos durante a estadia, Kojima-sensei apresentou o cronograma do curso. Nossa turma tinha 12 bolsistas, de países da América Latina, Europa, África e Ásia. Além de mim, mais um brasileiro, Will, integrou a turma, representando o Ministério do Meio Ambiente, e tornou-se um grande companheiro. À tarde tivemos uma palestra introdutória sobre a construção de uma sociedade voltada para a reciclagem no Japão, país conhecido pela incineração e aproveitamento energético de percentual significativo de seus resíduos, mas que tem alcançado porcentagens elevadas de reciclagem e avançado na redução do resíduo gerado a partir do desenvolvimento de sua legislação ambiental. Embora a legislação sobre resíduos possua algumas definições parecidas com as da Política Nacional de Resíduos Sólidos do Brasil, foi possível perceber grandes diferenças na implementação da política, considerando haver grande esforço na orientação da população, que tem como resposta o engajamento do povo nas decisões relacionadas à gestão de resíduos nos ambientes que frequentam, do condomínio à cidade. Além de folders e cartilhas, também foi citado como estratégia de sensibilização/orientação em algumas cidades a presença de voluntários em pontos de entrega voluntária (PEV) para ensinar as pessoas a segregarem os resíduos.

Após a palestra, conheci mais uma brasileira na JICA, a Sabrina, chefe do Will, que também estava no Japão para fazer um curso sobre reciclagem de eletroeletrônicos representando o Ministério do Meio Ambiente brasileiro.

Aproveitei para observar bem a segregação dos resíduos sólidos urbanos dentro da própria JICA, na qual os resíduos são separados em "incinerável" (papéis e restos de alimento, sem plásticos), não "incinerável" (plástico, metal e borracha), garrafas PET (separadas dos demais plásticos). À parte, há recipientes para descarte de papéis limpos, tais como revistas, e latas de alumínio e garrafas, este localizado ao lado da máquina de bebidas. Esta segregação favorece a coleta seletiva de resíduos limpos, o que facilita a reciclagem e minimiza a geração de rejeitos.

FotoSegregação de resíduos na JICA Tokyo

No dia 28 de agosto o enfoque do curso não foi técnico, mas sim em nos apresentar um pouco da cultura, história, geografia e economia do Japão. Os palestrantes foram excelentes e nos ajudaram a entender um pouco sobre como o Japão, apesar dos escassos recursos naturais e das sequelas da Segunda Guerra Mundial, tornou-se um país extremamente desenvolvido em vários aspectos.

FotoPalestra sobre a economia japonesa

O fim de semana que se seguiu foi excelente, de encantamento com Asakusa e o templo Meiji, localizado no Parque Yoyogi. Foram minhas primeiras visitas a templos budistas e xintoístas, um experiência diferente e incrível visto que no Brasil a prática de religiões de origem oriental é rara. Os lugares eram carregados de história e muito bonitos. Em Asakusa é possível vivenciar história, religião, gastronomia e compras de todo tipo... dentre outras coisas, lá tive duas grandes surpresas: presenciei um desfile de Carnaval japonês e provei (sem querer) picolé de feijão! Os doces de feijão são comuns no Japão; portanto quando for lá, atenção: nem tudo que parece chocolate é de cacau 

Ao fim da tarde fizemos uma breve passagem pelo parque Yoyogi, onde pudemos presenciar um grande festival de música e dança que estava ocorrendo lá, além de visitarmos o templo xintoísta.

FotoTemplo e arquitetura antiga em Asakusa

FotoAsakusa


FotoTemplo Meiji no Parque Yoyogi


No domingo fomos também ao Parque Ueno, uma área enorme que possui diversas opções de lazer e cultura, de museus a zoológicos. Lá visitamos um pequeno templo e fomos ao Museu Nacional de Tokyo, visitando os museus de cultura oriental e japonesa... um lugar onde se perde no tempo, com muita coisa legal para observar – artefatos, quadros, roupas, armas - e comprar como lembrança. Os passeios eram facilitados pelo metrô, transporte caro, mas extremamente eficiente em Tokyo.

FotoParque Ueno, em dois diferentes templos e no Museu Nacional de Tóquio

FotoParque Ueno, em dois diferentes templos e no Museu Nacional de Tóquio


FotoParque Ueno, em dois diferentes templos e no Museu Nacional de Tóquio


No dia 31, retomamos as palestras técnicas, ministradas em maioria em japonês e traduzidas por Mitani-san para o inglês. As palestras do dia 31 abordaram: a lei para a promoção da utilização efetiva de recursos naturais (2001) e as diretrizes para tratamento e reciclagem de resíduos; e o sistema de reciclagem de embalagens no Japão. Foi interessante perceber que as principais legislações federais relacionadas especificamente aos resíduos no Japão são relativamente recentes, mas que rapidamente foram obtidos bons resultados, com a adesão do setor produtivo e da população. O Japão é um país com relevo montanhoso, que carece de área para aterramento e recursos naturais, o que fortalece a necessidade de realizarem o reaproveitamento e a reciclagem de resíduos, mas é notável que o elevado nível educacional e profundo respeito às regras por parte da população favorece a obtenção de bons resultados no que se refere à gestão de resíduos.

No dia 31 à noite, nada de passeio! Fiquei "lapidando" e resumindo a apresentação que eu havia elaborado sobre a gestão de resíduos sólidos no Brasil, com enfoque no estado de Minas Gerais. Foi difícil adequar a apresentação nos critérios solicitados, pois eu havia preparado um material extenso sobre os programas e projetos que a Feam desenvolve em Minas Gerais, bem como sobre os enormes problemas que temos em relação aos resíduos, o que tornou a tarefa de compilar as informações em uma explanação de 10 minutos bastante dispendiosa. Essa noite foi uma das de maior ansiedade, já que no dia 01 de setembro faríamos a apresentação para os colegas, instrutores e alguns consultores externos.

No dia 01 de setembro, tivemos uma palestra no período da manhã sobre responsabilidade estendida dos fabricantes e os papéis dos vários atores envolvidos na logística reversa. Para mim e Will foi interessante entender um pouco sobre como funciona a logística reversa no Japão, visto que no Brasil o tema tem sido amplamente discutido e estamos na luta para firmar acordos com os fabricantes e importadores para implementar sistemas em âmbito federal e estadual que permitam o retorno dos resíduos aos processos produtivos ou encaminhamento a outras formas de destinação ambientalmente adequada. No período da tarde, fizemos enfim a apresentação sobre a gestão de resíduos nos nossos países. Como esperado, por mais que eu tivesse ensaiado e tentado resumir a apresentação, não consegui falar tudo que queria e o sininho bateu aos exatos 10 minutos, antes que eu concluísse a fala, assim como aconteceu com vários outros amigos. Sim, os japoneses são extremamente rígidos em relação aos horários. De qualquer forma, embora tivéssemos pouco tempo para falar, ficou evidente que muitos problemas na gestão de resíduos eram comuns nos países ali representados, todos em desenvolvimento. Alguns dos principais problemas que pudemos observar foram a ausência de segregação dos resíduos na fonte pelos geradores, a falta de interesse político na matéria e o despreparo dos gestores/técnicos municipais em promover a adequada gestão de resíduos nas cidades. Um aspecto no qual o Brasil, em especial Minas Gerais, mostraram destaque positivo foi na atuação e profissionalização dos catadores de materiais recicláveis organizados em associações e cooperativas; os outros países não possuem programas de governo para apoio aos catadores bem estruturados como os do Brasil.

FotoApresentação do nosso relatório inicial, sobre a gestão de resíduos em nosso país/estado e atuação de nossa instituição

Após as apresentações tivemos uma "Festa do Chá" na própria JICA. Foi o primeiro momento de maior integração entre os participantes do curso, no qual começamos a nos conhecer melhor e trocamos alguns cartões de visita, ritual de grande importância no Japão.

Foto"Festa do Chá", ocorrida após nossas apresentações

No dia 02 de setembro, tivemos palestras sobre a reciclagem de resíduos da construção civil, automóveis em fim de vida útil e eletrodomésticos no Japão. Para cada um desses resíduos existe uma lei específica. Esse dia foi de grande relevância, visto que na minha gerência trabalhamos diretamente com todos esses resíduos. As taxas de reciclagem de resíduos da construção civil e automóveis atingidas no Japão são de 96% e 99%, respectivamente, realidade bastante distante da brasileira, embora nós também tenhamos instrumentos legais e normativos visando a destinação final ambientalmente adequada de RCC e de automóveis (recente). Também com relação à reciclagem de eletroeletrônicos eles estão avançados, enquanto nós estamos discutindo um acordo setorial para implantar a logística reversa desses resíduos.

No dia 03 de setembro, iniciaram-se as visitas técnicas. Fomos à planta de incineração de Shinagawa, um incinerador municipal onde ocorre geração de energia a partir da combustão dos resíduos sólidos urbanos municipais; à uma empresa de desmonte e reciclagem de equipamentos elétricos e eletroeletrônicos, onde os componentes dos resíduos são separados de acordo com o material; e à uma empresa de triagem e reciclagem de resíduos da construção civil, na qual a operação dos enormes maquinários operam em espaços fechados, enclausurados, de maneira completamente diferente das usinas de reciclagem que possuímos em Belo Horizonte. No Japão, diferentemente do que ocorre no Brasil, a destinação predominante para os resíduos para os quais não há viabilidade técnica ou econômica de realizar reaproveitamento e reciclagem não é o aterro sanitário, mas sim a incineração com aproveitamento energético. É comum no Japão também que as empresas recicladoras e que realizam tratamento de resíduos localizem-se próximas, em determinadas regiões, formando "Ecoparques", de forma que o resíduo/produto proveniente de um processo pode ser absorvido no processo de unidade vizinha de destinação de resíduos próxima. A boa distribuição geográfica desses "ecoparques" e "ecotowns" favorece a reciclagem. Vale frisar que nem todos os resíduos recicláveis coletados e triados no Japão são reciclados no país, uma vez que parte é exportado para países como China.

É importante lembrar que não nos era permitido tirar fotos em todas as empresas, sendo que em algumas delas, embora pudéssemos fazer registros fotográficos, foi solicitado o uso estritamente profissional das imagens, sem publicação em redes sociais. Por esse motivo, esse relato possui poucas fotos dos empreendimentos visitados.

FotoVisita à planta de incineração de Shinagawa

Foto"Ecoparque", um conjunto de unidades de reciclagem e tratamento de resíduos

No dia 04 de setembro visitamos mais duas plantas: a primeira de desmonte e reciclagem de automóveis, com foco na venda de peças em boa qualidade proveniente de veículos em fim de vida útil, unidade que contava também com uma interessante tecnologia de recarregar baterias automobilísticas; e a segunda de produção de biodiesel a partir de óleo de cozinha, um processo simples desenvolvido a partir de uma parceria entre a recicladora e uma transportadora.

FotoVisita técnica à empresa de desmontagem e reciclagem de veículos

O fim de semana foi superagitado – e inesquecível. No dia 05 de setembro, Will, eu e mais três colegas deixamos Tokyo às 7:17 da manhã rumo à Kyoto de "Shinkansen", o famoso trem-bala japonês. Duas horas depois estávamos chegando à capital do Japão Imperial, onde, apesar da urbanização, ainda é possível respirar história. Alugamos uma bicicleta (os 800 ienes mais bem investidos "da minha vida") e percorremos diversos pontos turísticos da cidade, um mais lindo que o outro. Os destaques, entretanto, ficaram para o parque onde se localiza o Pavilhão Dourado (Kinkaku-ji), considerado patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO, e para o Santuário Xintoísta Fushimi Inari Taisha, famoso por seus corredores de portões torii. Estar em Kyoto é indescritível e este foi um dos meus dias prediletos no Japão, apesar do cansaço de ir e voltar no mesmo dia, passando o dia praticamente recarregada pela energia do lugar (e alguns sorvetinhos). No dia 06, viajaríamos para cidade de Takamatsu, na província de Kagawa, a fim de realizar novas visitas técnicas em ilhas próximas da localidade. E assim, voltamos a Tokyo exaustos e certos de que aquele dia foi um dos mais fantásticos de nossas vidas.

FotoConhecendo a cidade de Kyoto

FotoConhecendo a cidade de Kyoto

No dia 06 de setembro o grupo seguiu para Takamatsu acompanhado de nossa instrutora Mitani-san, nosso Sensei e de um nova e querida tradutora, contratada para nos auxiliar nesses dias de viagem. Como parte da programação de nossa viagem, a primeira parada, no domingo à tarde, foi a um típico Jardim Japonês, chamado Ritsurin (http://ritsuringarden.jp/). Trata-se de um grande parque localizado dentro da cidade de Takamatsu, que abriga museus e uma casa de chá, na qual pude participar de uma típica cerimônia do chá.

FotoVisita do grupo com o Sensei e as instrutoras ao Jardim Ritsurin, em Takamatsu

No dia 07, duas visitas técnicas estavam previstas na ilha de Naoshima. Para nos deslocarmos de Takamatsu até a ilha, fizemos o translado de barco, em um passeio fantástico. A vista era maravilhosa, embora não se visualizasse muitas aves ou uma flora diversa, como no Brasil é comum.

FotoTranslado de barco de Takamatsu para a ilha de Naoshima

Na ilha visitamos uma unidade da Mitsubishi na qual realiza-se um processo de recuperação de metais e uma planta de tratamento térmico a temperaturas superiores a 1000 °C para os resíduos retirados da ilha de Teshima, onde foram dispostos ilegalmente durante anos. Nesta unidade, os resíduos resultantes do tratamento são utilizados para produção de tijolos. Vale frisar que as unidades de tratamento térmico visitadas, inclusive incineração, possuem processos automatizados com controle constante dos principais parâmetros operacionais e de emissão atmosférica.

Ao longo da viagem, Kojima-sensei aproveitava as oportunidades para nos mostrar exemplos de coleta diferenciada, por exemplo, em centros comerciais, como mostra a figura abaixo, na qual há coletores para resíduos diferentes (latas de alumínio, garrafas PET, embalagens tipo Tetra Pak e outros), cada um com um cartaz educacional demonstrando o fluxo reverso daquele material para a reciclagem.

FotoPonto de entrega voluntária para resíduos diversos em centro comercial

No dia seguinte, fomos à ilha de Teshima, uma das mais famosas áreas ilegais de disposição de resíduos do Japão. Todos os dias são retiradas desta ilha toneladas de resíduos, que seguem de barco até a ilha de Naoshima, para tratamento. Medidas de mitigação são executadas para minimizar os impactos ambientais ao solo e à água do mar na ilha, o que juntamente com o transporte e tratamento dos resíduos, custam muito caro ao Governo Japonês. Na ilha fomos acompanhados pelo senhor que mais lutou para que a disposição ilegal na Ilha deixasse de ocorrer e para que ocorresse a recuperação da área. Atualmente, cerca de 80 % dos resíduos que se acumulavam na ilha de Teshima já foram encaminhados para tratamento na ilha de Naoshima.

FotoVisita técnica à ilha de Teshima

FotoVisita técnica à ilha de Teshima

Após a visita técnica, seguimos de volta ao continente e pegamos o voo de volta para Tokyo, onde se seguiriam mais três dias de curso. No dia 09 de setembro, tivemos uma palestra ministrada pelo Sensei sobre padrões da indústria para resíduos recicláveis e produtos reciclados e sobre o programa de troca de informações sobre resíduos no Japão e outros países asiáticos. Na tarde do mesmo dia, visitamos o Centro de Reciclagem de Shinagawa, uma central pública de recebimento da parcela reciclável dos resíduos sólidos urbanos (garrafas PET e de vidro, latas, papel) e lâmpadas. Na central é realizado processamento de alguns resíduos e enfardamento, além de encaminhamento a recicladoras ou ao fabricante, como no caso das garrafas de vidro.

FotoSegregação de garrafas de vidro e enfardamento de latas de alumínio e plástico para encaminhamento à reciclagem

Na ocasião, foi apresentada o programa de orientação da população para a segregação de resíduos na região de Tokyo, realizado com folders explicativos detalhados sobre como segregar e acondicionar determinados tipos de resíduos, em que categoria cada resíduo é classificado, se pode ou não ir para a incineração, como acondicionar, como destinar, formas de acionar o poder público para coleta de resíduos volumosos, dentre outras informações. Alguns resíduos são coletados rotineiramente nas casas, outros tem que ser entregues em pontos específicos, para outros se encoraja a doação; no caso dos resíduos volumosos, é comum que exista um número de telefone ou site onde a população agenda a coleta dos resíduos e normalmente paga uma taxa por isso.

FotoCartilhas e pasta orientativas para a população, com informações sobre a adequada segregação de resíduos

Sobre essa questão, abro parênteses para dar mais detalhes sobre a segregação e a coleta seletiva no Japão. Nas cidades japonesas é comum a definição de um cronograma para a coleta de diferentes tipos de resíduos em dias diferentes. O mais comum é que o acondicionamento seja feito em sacos plásticos, mas alguns governos locais definem outras especificações. Normalmente há um horário específico para colocar os resíduos para fora de casa e a tipologia deve estar de acordo com o cronograma municipal; do contrário, o resíduo pode não ser coletado. O munícipe pode ser punido se disponibiliza o resíduo para coleta segregado ou acondicionado de forma errada. No Japão é comum que nesses casos os vizinhos atuem como "fiscais". Em alguns lugares trabalha-se com o modelo de compra de sacolas plásticas próprias para acondicionar e disponibilizar o resíduo para a coleta; essas coletas são tanto mais caras quanto maior o volume, o que incentiva a redução da geração e a segregação. Essa estratégia é mais usada para o comércio, mas aparentemente em alguns municípios é aplicado também à domicílios. Há grande participação da população na gestão de resíduos como um todo, inclusive na definição de onde os Pontos de Entrega Voluntária devem ser colocados. As pessoas também se organizam em condomínios para promoção da segregação adequada.

No dia 10 de setembro, penúltimo dia de curso, visitamos o IDE- Jetro (Institute of Developing Economies, Japan External Trade Organization), instituto de pesquisa onde o Kojima-sensei trabalhava, onde foi ministrada palestra sobre controle da poluição na indústria de reciclagem. Após o término da palestra visitamos a biblioteca do Instituto, almoçamos juntos e no período da tarde, fomos divididos em grupos de discussão. A ideia era que o grupo pontuasse pontos positivos e negativos da experiência no Japão, tanto no que se refere ao conhecimento técnico obtido no curso quanto ao cotidiano. Dentre os aspectos positivos pontuados pelo meu grupo estão: o preparo dos governos locais (municipais) em realizar a gestão de resíduos sólidos; a consciência ambiental e participação das comunidades nas decisões relacionadas à gestão de resíduos, além da ação (segregação); os esforços na educação ambiental e orientação para a adequada segregação dos resíduos, por exemplo através de folders e cartilhas; bons sistemas online de dados para a gestão de resíduos, como há para os veículos em fim de vida útil, favorecendo o fluxo e cruzamento de dados sobre as diversas etapas do gerenciamento do resíduos, envolvendo diferentes instituições; aproveitamento energético nas plantas de incineração de resíduos; uso de instrumentos econômicos para a melhoria da gestão dos resíduos, como taxas que promovem a redução da geração; boa distribuição geográfica das indústrias de reciclagem no país; organização em tudo, não só na gestão dos resíduos. Dentre os aspectos negativos em relação à resíduos, a meu ver, é que ainda há um montante considerável de resíduos encaminhados para a incineração que poderiam ser reciclados. Meus colegas pontuaram como negativo o fato de que há pouquíssimas lixeiras nas ruas e calçadas no Japão; vale frisar que mesmo assim, quase não se visualiza resíduo jogado nas ruas, mostrando que a maioria da população tem consciência da responsabilidade em relação ao resíduo que gera. Um ponto que foi identificado pelo grupo tanto como "bom" quanto "ruim" foi o comprometimento com horários, o gerenciamento do tempo; os japoneses são extremamente disciplinados em relação ao cumprimento de cronogramas e horários, mas a impressão é de que às vezes esse gerenciamento de tempo implica em ausência de flexibilidade, quase como se não pudesse haver imprevistos. No Japão não basta chegar na hora, tem que chegar preferencialmente antes, o que causa certa estranheza à maioria de nós à princípio, mas foi um ponto que ajudou muito na otimização do tempo ao longo das atividades do curso.

FotoPalestra no IDE-Jetro e apresentação dos grupos de discussão

FotoAtividade de discussão dos pontos positivos e negativos da gestão japonesa de resíduos e experiência no Japão

No nosso último dia de curso, 11 de setembro, fizemos uma última dinâmica em grupos, uma discussão sobre os problemas que ficaram evidentes em nosso país em relação à gestão de resíduos e o que fazer para mudar. Meu entendimento foi de que os principais problemas já foram diagnosticados em nosso estado, Minas Gerais, na instituição que trabalho, mas carecemos de ferramentas, recursos e maior interesse político para viabilizar ações que supram as lacunas de uma gestão pouco eficiente de resíduos. Além disso, ficou claro que sem o envolvimento da população e a devida atenção dos Poderes Públicos municipais é impossível pensar em destinação ambientalmente adequada de resíduos sólidos, sejam urbanos ou especiais. Outra questão essencial é a melhoria da cobrança pelo gerenciamento de resíduos pelo governo, quando este prestar o serviço, e o desenvolvimento de instrumentos econômicos; no Japão é comum que a indústria da reciclagem receba subsídios para garantir a viabilidade desse tipo de negócio, que também é um serviço ambiental à sociedade. Após as discussões fizemos um balanço junto ao Sensei e as instrutoras do curso sobre nossas impressões individuais do curso e do Japão, além dos agradecimentos por termos tido tanto suporte da JICA durante nossa estadia e estudos. Foi interessante perceber as diferentes opiniões, mas a gratidão sincera de todos os participantes. Após o almoço, tivemos a cerimônia de encerramento do curso, com discursos dos diretores da JICA e de um colega nosso, além da entrega dos certificados de conclusão do treinamento.

FotoCerimônia de encerramento do Curso de Desenvolvimento de Políticas de Reciclagem, com entrega dos certificados

À noite, com a sensação de dever cumprido, fomos acompanhados pelas instrutoras e Sensei em um jantar de despedida, em um restaurante próximo à JICA.

FotoJantar de despedida do curso de Desenvolvimento de Políticas de Reciclagem

No sábado, nosso último dia, após acordarmos com um pequeno terremoto (não poderia ir embora sem vivenciar essa experiência que, no Japão, não dá medo), resolvemos aproveitar a manhã para conhecer mais algum lugar interessante em Tóquio. Decidimos ir à Tokyo Sky Tree, uma torre de milhares de metros, com diversos andares com lojas e, nosso interesse, um andar especial onde é possível ter uma vista 360° da cidade, através de janelas de vidro que circundam o prédio. Foi legal, embora estivesse muito cheio, mas breve, visto que ainda tínhamos que voltar à JICA Tokyo e terminar de arrumar a bagagem para o retorno ao Brasil.

Às 17h deixei a JICA certa de que aquela experiência, apesar da distância e do cansaço, tinha valido por cada minuto de aprendizado técnico e cultural. Estar no Japão é presenciar a cultura de um dos povos mais disciplinados e educados do mundo e presenciar o choque entre o que há de mais moderno e o que há de mais tradicional. Os japoneses não são calorosos e carinhosos como nós brasileiros, mas estão longe de serem frios: são pessoas muito solícitas e gentis, que possuem um senso de coletividade incrível. Aparentemente, o fato de terem restrições de espaço e estarem constantemente em lugares lotados torna bastante evidente a importância de que cada um aja corretamente para não prejudicar a todos. A limpeza e a segurança nos espaços púbicos são impressionantes. Não foi fácil voltar ao Brasil e lidar novamente com a sensação de medo de andar nas ruas à noite.

Espero ter conseguido deixar claro para todos que leram esse relato o quão rica foi essa experiência, não só do ponto de vista técnico, enquanto engenheira, servidora pública e amante das causas ambientais, mas também no que se refere ao enriquecimento cultural. Aos que tenham dúvida sobre ir ao Japão, por medo do choque cultural e culinário, encorajo que vençam qualquer barreira, pois a oportunidade é imperdível. Nas ruas as pessoas nos tratavam muito educadamente e eram solícitos em dar informações, mesmo com a dificuldade relacionada à língua, visto que poucos japoneses falam inglês. Muitos japoneses inclusive nos abordavam para tirar fotos de nós ou conosco.

Em especial com relação à JICA Tokyo, posso afirmar que a estrutura é excelente e que não há dificuldades em relação à comida. O café da manhã é parecido com o nosso. Particularmente, sempre gostei de comida japonesa, mas descobri que no dia a dia, os japoneses comem mais comumente arroz e sopas (deliciosas) à base de macarrão e vegetais do que propriamente sushi e sashimi. De qualquer forma, na JICA Tokyo tinha muitas opções de refeição, desde macarronada tradicional à pratos típicos de outros países asiáticos. Com relação às bebidas já esperava muito chá verde, mas acabei me apaixonando pelo ginger ale, bebida à base de gengibre que nunca tinha visto no Brasil.

FotoPratos que adorava na JICA Tokyo

FotoRefeitório e jardins da JICA Tokyo

Além dos conhecimentos técnicos obtidos durante a estadia, um dos principais resultados do curso provem dos contatos feitos ao longo do treinamento. Meses após o retorno, consulto constantemente o Sensei para aprofundar os conhecimentos sobre reciclagem de resíduos especiais e tirar dúvidas sobre tecnologias de tratamento que tem chegado ao Brasil e sobre as quais não se tem muitas informações (e assim entendimento). Particularmente em um momento em que temos discutido muito o desmonte e reciclagem de veículos em fim de vida, a experiência no Japão tem nos ajudado a sustentar o argumento de que o modelo com aproveitamento de peças, respeitados os critérios de segurança necessários, é o melhor do ponto de vista ambiental, ao contrário do que algumas empresas têm apoiado em Minas Gerais. Além disso, ter conhecido Will e Sabrina, do Ministério do Meio Ambiente, foi uma experiência ótima do ponto de vista pessoal e profissional, facilitando o alinhamento sobre as ações que vem sendo realizadas quanto aos resíduos especiais em âmbito federal e estadual (Minas Gerais). É sempre importante trabalhar em sincronia com o órgão federal e ter relações institucionais mais estreitas, que facilitem a comunicação, o que considero um efeito interessante do meu treinamento no Japão.

Enfim, foram pouco mais de duas semanas, intensas, que permitiram a formação de novas amizades, contatos e ideias. Agradeço muito ao Fábio Takahashi, à senhora Mami Saiki, e demais funcionários tanto da JICA brasileira quanto da JICA Tokyo, que permitiram e viabilizaram minha ida e agradável estadia no Japão. Sem dúvida, os conhecimentos técnicos adquiridos estão e continuarão sendo de grande valia para o desenvolvimento das atividades da Gerência de Resíduos Especiais da Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais. Gratidão à JICA e ao povo japonês por essa experiência inesquecível. Arigatou gozaimasu!

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